Os versos de Palavra nenhuma, de Lilian Sais, reconstroem uma história viva e bonita que estava soterrada sob “palavras/ [nunca] ditas por inteiro”, guardada na gaveta em que os presentes recebidos do pai — uma ampulheta, um telescópio, uma bússola, um relógio — dormiam até que a morte dele acendesse novos sentidos em cada pequeno gesto de afeto. Uma história que começa com o “n de navio” no nome da filha e vai acompanhá-la nessa navegação cujo destino é o reencontro com seu pai e consigo própria, sob as camadas de distância que a vida coloca. Se a morte lança à deriva, é o mergulho na memória que revelará, em torno daqueles objetos que servem para nos orientar no tempo e no espaço, que os afetos também podem e devem ser reorientados. Em versos bem-humorados que dizem tanto com tão pouco, a poeta ata as pontas da vida para manter por perto o que ama.